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quinta-feira, 6 de maio de 2010

A DESCRIÇÃO DO MUNDO

Quando nasce, uma criança não percebe o mundo da mesma forma que os adultos. Isso porque a atenção dela ainda não opera como primeira atenção, portanto não compartilha a percepção do mundo com os outros. Apesar de cercado pelas mesmas emanações que as outras pessoas, a criança ainda não aprendeu a selecionar e organizar a percepção como os adultos. Assim, à medida em que for crescendo e assimilando a descrição do mundo fornecida pelos mais velhos, ela aos poucos partilhará da mesma percepção. De uma maneira natural, cada pessoa que entra em contato com a criança – em especial os adultos – age como um mestre, mesmo que inconsciente, descrevendo o mundo para ela, sem cessar e, mesmo que de início a criança não compreenda a descrição (pois não percebe o mundo nos mesmos termos), aos poucos vai assimilando até aprender a perceber a realidade nos termos da descrição. De fato, a descrição é que determinará a maneira precisa da percepção da criança selecionar e organizar os campos de energia que a circundam. Assim, é válido dizer que o que percebemos no dia-a-dia é a própria descrição, fluindo constantemente de nós mesmos para o exterior. O fluxo da descrição, de um modo geral, se mantém ininterrupto, sustentando a percepção do mundo que nos é familiar, instante por instante, dia após dia. Se este fluxo parar, a realidade que ele está criando se desfaz, causando o que Don Juan chamava de “parar o mundo” (Ver se refere à capacidade de perceber o Universo tal como ele é após o cessar da descrição). Don Juan fazia com que seus aprendizes, na fase inicial de seu trabalho, aprendessem a descrição do mundo pela visão dos feiticeiros como meio de interromper o fluxo da descrição ordinária. Logo após, mostrava que esta não passava de uma nova descrição, na qual também não valia ficar preso.

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