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quinta-feira, 6 de maio de 2010

NÃO-FAZER

A capacidade de separar e depurar emanações para formar um mundo compartilhado com outras pessoas é chamado de “o primeiro anel de poder”, que, de certa maneira prende os elementos do mundo e projeta a descrição, disso resultando a percepção como a experimentamos. Os anéis de poder de todas as pessoas estão entrelaçados entre si, de modo que a construção da realidade em termos da descrição é partilhada entre todos, ou seja, é uma tarefa coletiva da qual participam todos os que estiverem envolvidos em cada situação específica, fazendo com que a percepção de cada objeto no Universo seja mais ou menos a mesma. Para perceber o mundo em outros termos que não sejam os da descrição ordinária do mundo, o feiticeiro se vale de um segundo anel de poder, através do qual ele constrói outros mundos. Todos temos este segundo anel, mas a sua utilização somente ocorre quando se bloqueia o funcionamento do primeiro anel, o que raramente acontece na vida das pessoas comuns. Uma característica fundamental do funcionamento do primeiro anel de poder é que ele pode ser bloqueado pelo efeito da realização de ações não funcionais, estranhas à descrição, conhecidas como não-fazer. A descrição diária do mundo nos induz a comportarmo-nos sempre de acordo com os termos que ela assinala. Assim, todos os nossos atos e ações emanam da descrição e a revalidam. Estas ações do dia-a-dia são o “fazer” e, conjuntamente com a descrição que as sustenta, constituem um sistema que se realimenta momento após momento. Desta forma, qualquer tipo de ação que não seja congruente com a descrição do mundo ou de si mesmo, faz parte da não-fazer da pessoa. O não-fazer interrompe o fluxo da descrição e esta interrupção suspende o fazer do mundo como o conhecemos; por isso o não-fazer é o meio que abre o caminho de acesso ao lado desconhecido da realidade e da pessoa. Em outras palavras, é o meio de acesso ao nagual que, no que se refere ao mundo é a realidade à parte e, no caso da pessoa, é a consciência do outro eu. O não-fazer se realiza a partir do lado direito da consciência, mas tem a capacidade de levar-nos a facetas do lado esquerdo, e sua prática sistemática vai criando pontos de contato entre ambos os lados, que pouco a pouco nos aproximam da integração dos dois modos de consciência, resultando no que Don Juan chamava de totalidade de si mesmo.

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