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quinta-feira, 6 de maio de 2010

O MITO DO GUERREIRO

O guerreiro não existe. É um mito que, como todos os mitos, tem por função refletir as nossas mais nobres aspirações como mortais. Seguir o caminho do guerreiro é um convite e um guia para o insólito processo de nos transformarmos em (ou melhor dizendo: reaprendermos a ser) seres mágicos, mediante a encarnação deste mito. Os mitos são, em parte, relatos que as pessoas contam e muitas vezes são transmitidos de geração em geração. Não cabe aqui questionar se os mitos são reais ou fictícios, pois os mitos são reais enquanto cumprirem uma função real entre as pessoas e é nos mitos que os povos encontram um espelho para refletir sua melhor face e mesmo o seu rosto desconhecido. É um espelho que reflete a cara deste outro que eu sou e no entanto não sou. Desse que não sou, mas almejo ser. Desse outro que é reflexo de mim mesmo, porém diferente, elevado, transfigurado e transformado num ser com poder, magia e, acima de tudo, LIVRE! O mito está para a sociedade assim como os sonhos estão para os indivíduos. Assim, o mito é o sonho do homem, que nos murmura constantemente nos ouvidos as promessas de beleza e liberdade. Do mito de Cristo que, sendo homem, através de uma vida de purificação e serviço, transfigura-se em Deus, aos mitos de Hércules, Quetzalcoatl, Viracocha, Buda e tantos outros, os temas são sempre os mesmos: o homem de profundas aspirações que vive num mundo sempre muito inferior à estas aspirações, num conflito entre a sociedade em que vive e as aspirações de seu espírito. O mito nos fala da luta, das dúvidas e provações que ele deve atravessar para, finalmente alcançar o seu sonho de transcender o caos e o aspecto miserável da condição humana. Os mitos são um guia para a ação, um mapa que mostra como chegar às realidades mágicas que descreve, para promover formas de conduta e ações concretas que permitam ao homem sair do caos em que costuma viver preso. Quando o homem não está à altura de seus mitos e não é capaz de agir de acordo com suas indicações, o homem transforma-os em dogma e funda uma religião. Quando isto acontece, o mito perde o seu papel libertador e vira instrumento de opressão. E deixa de ser mito, pois este é para ser vivido, enquanto o dogma é só para ser acreditado; o mito convida à ação, e o dogma, à submissão. Por exemplo, a igreja e os seus ministros são intermediários desnecessários que na maioria das vezes atrapalham (quando não acabam) a nossa caminhada rumo à liberdade e ao conhecimento. O caminho do guerreiro, onde os guerreiros são seres mágicos vivendo com alegria e poder no meio da sociedade do dia-a-dia, é um mito do nosso tempo. Não que os guerreiros e os homens de conhecimento não tenham uma existência concreta – que eles têm, sim – mas porque tem a mesma função que os outros mitos: refletir as nossas aspirações mais belas e dignas como mortais e convidar-nos a torná-las realidade. Don Juan dizia que a gente nunca é um homem de conhecimento e, da mesma forma, nunca somos um guerreiro – ao menos não de todo - , embora estejamos sempre lutando para sê-lo, sempre estamos a caminho, como Genaro indo para Ixtlán. O mito do guerreiro é um maravilhoso convite para encarná-lo e, assim procedendo, torná-lo real em nossa própria pessoa., começando com o trabalho de colocar um pouco deste tempo mágico em nossa vida diária, quando, ao invés de comportarmo-nos como máquinas que simplesmente obedecem a uma programação alheia, escolhermos o ato proposital e o “modo do guerreiro”. Esses momentos de luz, quando dirigimos nossa vida e o que se passa em nosso interior, são como o tempo mágico de uma cerimônia, o “tempo fora do tempo” em que a vida nos fala pessoalmente e nós a entendemos, momentos em que a vida vira nossa amiga e compreendemos o que significam o poder e o conhecimento expressos não na imaginação, mas em conhecimentos diretos, sem palavras. O desafio de quem segue pelo caminho do guerreiro é trabalhar duro para fazer que esses momentos mágicos sejam cada vez mais freqüentes e contínuos, até que a magia prevaleça sobre a submissão e a harmonia sobre o caos, até que o seu sonho de poder e liberdade predomine sobre a realidade caótica da vida diária das pessoas. ATÉ QUE O SONHO SE TORNE REALIDADE

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