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quinta-feira, 6 de maio de 2010

O GUERREIRO

Don Juan dizia que um homem vai de encontro ao conhecimento como quem vai à guerra: com medo, com respeito, desperto e com absoluta confiança. Por isso, o homem que vai à busca do conhecimento pode ser chamado de guerreiro, pois o jeito certo de se andar pelos misteriosos caminhos do conhecimento é o do guerreiro, que é a “cola que une todas as partes”... O ânimo do guerreiro constitui a atitude fundamental presente em tudo aquilo que o caminho do conhecimento exige. Somente como guerreiros poderemos sobreviver na senda para o conhecimento e a possibilidade de ser um está aberta a qualquer um de nós, mesmo não sendo nada fácil. O modo do guerreiro tem pouco ou nada a ver com as guerras dos homens comuns às quais estamos familiarizados, onde a palavra guerra nos remete à tentativa de impor aos outros (através da violência ou destruição de algo ou alguém), as nossas próprias condições. Segundo Don Juan, o guerreiro é guerreiro porque está sempre na luta. Só que esta luta é contra suas próprias fraquezas e limitações, contra as forças que se opõem ao seu engrandecimento de seu conhecimento e poder pessoal, contra as forças que impõem que seu destino seja o destino de um homem comum e corriqueiro, dominado em todos os sentidos pela sua história pessoal e as suas circunstância. O guerreiro quer resgatar a possibilidade de escolher ele mesmo como ser e viver, vivendo em luta pela harmonia e quietude de mente e espírito. É uma luta pela liberdade, ciente que esta começa dentro de cada um, daí projetando-se sobre tudo o que compõem o mundo onde age. É uma luta suave, calada e alegre. O modo do guerreiro é uma atitude de viver o desafio de ser. A atitude do guerreiro é uma noção, uma direção, uma persistência em escolher o jeito forte e autêntico em cada ato de sua vida. A marca mais forte do guerreiro é a sua insistência em buscar a impecabilidade em cada uma de suas ações, mesmo na menor delas. Impecabilidade é dar o melhor de si mesmo em tudo o que se faz, o que implica no uso otimizado da energia. Mesmo que tudo desabe ao seu redor, o guerreiro persiste na sua forma de conduta, nem que seja pela própria impecabilidade. E é nesta vida sensata e centrada que o guerreiro encontra o equilíbrio e a sobriedade necessárias para trilhar o penoso caminho do conhecimento, não importando o quanto a sua razão fique perdida ou confusa, ou seu ego se sinta magoado em determinado momento. Qualquer coisa que se faça, pode-se fazer ao modo do guerreiro, daquele que está sempre na luta e nunca abandonado, que não admite o desleixo nem a entrega, que transforma o menor de seus atos num desafio de poder ir além dos limites, de ser melhor, mais poderoso, mais suave, mais mágico... Entre as armas fundamentais de um guerreiro está a vontade, como poder que emana de si mesmo para tocar e sentir o mundo e até para dirigí-lo. Um poder que o leva a batalhas maiores e mais intensas, que a sua razão não se atreveria a enfrentar. Ele conta também com a consciência plena de sua inevitável morte e faz de cada ato de sua vida a sua última batalha e, assim agindo, dá o melhor de si em cada luta. Por isso, tendo a morte como conselheira e companheira constante, todos os problemas e ações de sua vida comum perdem importância, e todos os seus atos como guerreiro ganham poder, transformando em tempo mágico o seu tempo de homem vivo na terra. A noção da morte iminente lhe confere o desapego necessário para não se prender a nada e não se negar nada. Despegado de tudo, consciente de sua mortalidade e em luta constante, o guerreiro aprende a construir sua vida através do poder de suas decisões, trabalhando cada momento para alcançar o controle de si mesmo e conseguir o controle de seu mundo pessoal. Cada coisa que faz é um ponto de sua estratégia e controle e estratégia são dois fatores sempre presentes em seu modo de viver. Tudo o que ele faz não é fruto do acaso, das circunstâncias externas ou de rompantes emocionais, mas sim, frutos de sua estratégia de vida. Nela, não há espaço para caprichos, mecanicidade ou atos impulsivos, pois seus atos não são desconexos ou dispersos, mas atos ajustados aos termos da estratégia previamente elaborada que ele usa para atingir os seus objetivos. Os elementos que configuram as estratégias do guerreiro são os elementos do caminho com coração, por isso ele usa o seu para curtir e desfrutar cada pedacinho de tempo. Valendo-se de sua vontade, do controle e da estratégia, o guerreiro reduz as suas necessidades a nada, pois percebe que elas geram as carências e a desdita. Assim, se não necessita, não anseia nem se preocupa, podendo agir sem a carga da necessidade, do anseio ou da desdita. Desaparecendo as necessidades, tudo o que ele tem e tudo o que ele recebe, mesmo o menor e o mais simples, torna-se maravilhoso presente e a vida, sem importar o quanto se tem, torna-se um permanente estado de abundância.

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